Para onde vai o dinheiro quando compramos um livro?

2.ª pergunta da série “perguntas que os leitores fazem ou talvez tenham vontade de fazer”.

Cada leitor conhece melhor do que ninguém as capacidades e prioridades da sua carteira. Por isso, nunca nos ouvirão dizer que os livros são baratos. Uma coisa é certa: é muito comum as pessoas queixarem-se do preço dos livros em Portugal. No entanto, quando as esclarecemos sobre o destino de cada cêntimo saem quase sempre boquiabertas.

Para onde vai então cada cêntimo quando compramos um livro?
Do PVP de um livro sai o valor para pagar todas as despesas relativas à sua criação, impressão, divulgação, transporte, exposição e venda.

Em média:

50 a 60 % do PVP destina-se à distribuição e às livrarias.
15% do PVP serve para pagar a impressão do livro.
8% são direitos para o autor ou autores.
6% é IVA que regressa ao Estado.

A percentagem que sobra, 20 a 30%, é a fatia do editor. Ou seja, a fatia do editor é variável e está dependente da percentagem da distribuição e ponto de venda.
Com esta fatia o editor paga despesas relacionadas com divulgação do livro (catálogos, site, etc), promoção do livro no estrangeiro (participação em feiras, etc), design gráfico, revisão, tradução, etc.

Outros esclarecimentos:
O trabalho de distribuição exige divulgar os livros nas lojas, enviá-los, recolhê-los, gerir encomendas e stocks. A sua percentagem ronda os 15-20%.

As grandes cadeias de livrarias conseguem negociar margens maiores porque vendem mais livros: têm muitas lojas e uma distribuição centralizada, logo são pontos de venda muito importantes para um editor. Normalmente ocupam espaços em centros comerciais e têm despesas consideráveis.

As livrarias independentes ganham margens mais pequenas, mas isso não significa que não tenham igualmente grandes despesas (à sua escala) e outras dificuldades e, por isso, vemos tantos negócios abrir e acabar por fechar. Pela relação que estabelecem com os leitores, pela dinamização da sua programação e pelo facto de conseguirem chegar a pontos do território onde as grandes cadeias não chegam são também pontos de venda muito importantes para um editor.

Os autores ganham percentagens entre os 6-12%. Quando a autoria de um livro é partilhada, a percentagem não sobe, apenas se divide por mais cabeças. Quando um livro exige mais tempo ou uma equipa de trabalho maior são os autores e o editor que fazem esse investimento e correm esse risco.

Quando um livro tem uma produção mais cara (por ter mais páginas, um papel especial ou um acabamento mais luxuoso), é o editor que paga essa despesa, que terá necessariamente de se refletir no PVP, mas sempre dentro de certos limites (pois os leitores não pagarão mais do que um certo valor).

Em Portugal, porque o mercado é pequeno, porque se produzem muitos livros e porque e não há assim tantas pessoas a comprá-los, as tiragens são, em média, muito pequenas.

É sobretudo esse aspeto que encarece o preço dos livros (quanto maiores as tiragens, mais baixo o preço da impressão por exemplar).