Leitores escolhidos a dedo: Miguel Fragata e Vitória

Há uns tempos contaram-nos que o Miguel Fragata estava a preparar uma leitura encenada do livro “Daqui ninguém passa”. Quisemos logo ir espreitar, porque quando o Miguel conta uma história é sempre especial. No palco do teatro LU.CA, para além do Miguel, encontrámos a Vitória, que partilhava o texto, a lanterna e o palco com o pai.
São eles a nossa dupla de “Leitores escolhidos a dedo”.

Créditos: Alípio Padilha, LU.CA – Teatro Luís de Camões

Miguel e Vitória, já vos conhecemos como criadores do palco e como actores, mas gostávamos também de vos conhecer como leitores.
Quais foram os últimos livros que leram e de que gostaram muito?
(Vitória) Os livros de que eu gostei mais foram todos os da coleção “Harry Potter”. Porque têm aventuras, mistérios e algumas piadas – eu não conseguia parar de ler! De todos os livros da coleção, o que mais gostei foi o oitavo: “A Criança Amaldiçoada”.

E és tu que escolhes os livros ou aceitas sugestões de outras pessoas? 
(Vitória) Os livros do “Harry Potter” fui eu que escolhi, mas aceito sugestões de outras pessoas, como por exemplo dos pais, dos amigos e também aceito sugestões de alguns colegas que fazem apresentações de livros na escola.

Miguel, e o que dirias de ti como leitor? Como tem sido o teu percurso?
(Miguel) Em criança gostava de ler, ouvir, e sobretudo, de contar histórias. Quando tinha 4 anos iniciou-se uma carreira amadora (de muito amor, sim!) na arte de contar. Andava fascinado por uma colecção de livros acompanhados de cassetes audio. Lembro-me que uma das favoritas era a de “Winnie, The Pooh”. Ouvia as cassetes, lia os livros furiosamente e, um dia, comecei a percorrer as várias salas da escola onde andava, a contar a minha interpretação dessas histórias a todos (que incluía várias vozes!)… É muito curioso que, com a mesma idade, a Vitória também percorreu as várias salas do pré-escolar, a contar a todos a história do “Tio Lobo” (também com as várias vozes bem trabalhadas…).

Entretanto fui crescendo e ficando mais selectivo. Na adolescência tive o período “Diários de Adrian Mole”, Agatha Christie, houve uma altura em que me apaixonei pelos autores russos, outra pelos brasileiros, pelos ingleses…. Ultimamente gosto muito de ler prosa contemporânea portuguesa. Sempre preferi a prosa à poesia. Acho que tem a ver com o gosto por narrativas. Infelizmente, nos últimos anos deixei de poder (e conseguir!) ler com a mesma frequência… Essa alteração teve a ver com as naturais mudanças da vida, da idade, e sobretudo com o maravilhoso aparecimento de dois seres na minha vida: a Vitória e a Pilar. A paternidade é incrível, mas inimiga da leitura…

Costumam ler a pares? Em silêncio ou em voz alta? A Vitória lê para o pai em voz alta? O pai lê para a Vitória em voz alta? 
(Vitória e Miguel) Sim, às vezes, lemos a pares. Desde que a Vitória nasceu, que lemos uma história todas as noites. Começou por ser o pai a ler à filha; depois, quando a filha aprendeu a ler, começámos a ler a pares e agora, que a filha lê como gente grande, lê normalmente sozinha. Mas por vezes gosta de ler em voz alta para todos (pai, mãe e irmã!).

Créditos: Alípio Padilha, LU.CA – Teatro Luís de Camões

Quando prepararam a leitura encenada do Daqui ninguém passa, o que é que acharam mais difícil e o que é que vos divertiu mais?
(Miguel e Vitória) Quando preparámos, os dois, a leitura a propósito das eleições, soubemos desde logo que queríamos trabalhar o “Daqui Ninguém Passa”. É um livro que adoramos, que já lemos vezes e vezes sem conta (o livro já foi emprestado à biblioteca da sala da Vitória), já tinha dado azo a várias encenações caseiras e, portanto, parecia-nos óbvio que o tínhamos que ler nesta nossa primeira aventura enquanto par de leitores/ contadores.

O que achámos mais difícil, no que se refere à montagem da encenação que imaginámos em conjunto, foi manter um ritmo dinâmico, porque decidimos usar muitas figuras em miniatura para dar corpo às várias personagens. Esse esforço foi também uma das partes mais divertidas… 
Por outro lado, foi difícil manter a calma… Para a Vitória era a primeira vez a ler em frente a um público desconhecido e isso pode ser um pouco stressante (para mim ainda o é!).
(Vitória) Sim, porque quando estás no teatro, tens de fingir que não conheces as pessoas… 

E como foi trabalharem juntos? Correu bem?
(Vitória e Miguel) Foi óptimo trabalharmos juntos. Gostámos tanto que queremos repetir a experiência assim que possível, com novas leituras e novos livros! 

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O Miguel Fragata é actor, criador e encenador. Com Inês Barahona, fundou e dirige a companhia de teatro Formiga Atómica, da qual já saíram espetáculos como “Montanha Russa”, “Do Bosque para o Mundo” ou “A Caminhada dos Elefantes”.
Procurem-nos aqui: http://formiga-atomica.com/pt/